A Identificação da “PEDRA” (πέτρα) de Mt.16:18 pelo binômio Confissão/Confessor.
Nossa
tarefa neste ensaio exegético é expor a identificação da “pedra” (16:18), levando em conta alguns pressupostos hermenêuticos. Seguido a isto, uma análise de viés
exegético com alguns considerandos metodológicos que envolvem este trato. A defesa em voga pensa a pedra pelo binômio confissão/confessor. Para tal, percorreremos alguns caminhos que trarão alguns substratos a percepção hermenêutica definida.
A percepção teológica da “pedra” de Mt.16:18 oriunda da teologia reformada tem também suas especificidades definidas. Em primeiro lugar, destaquemos a percepção de Calvino (1509-1564), pois leva em conta a confissão de Pedro feita em seu nome e em nome de seus irmãos (“Cristo, o Filho de Deus”). Assim, sobre ‘“esta pedra’ Cristo edifica a Sua igreja, porquanto é ela, como diz Paulo, o fundamento único, além do qual não se pode colocar outro” (1Co.3:11, CALVINO. As Institutas, Vol.4, 2006, p.112). Em segundo lugar, Herman Bavinck (1854-1921) em sua Dogmática Reformada entende que “a resoluta confissão de Jesus, como o Cristo realizada por Pedro, mostra que era a pedra sobre a qual Cristo edificaria a igreja.” Além disso, entende que a antítese com a percepção da ICAR não é necessária e reitera que a expressão “esta pedra” só pode se referir a Pedro, mas que isso foi demonstrado por sua confissão. Por essa razão, Jesus Cristo prometeu a Pedro que edificaria sua igreja (Cristo, o construtor) sobre ele, como confessor da filiação e do messianismo de Jesus (Pedro, a pedra sobre a qual a igreja se apoiaria, BAVINCK. Dogmática Reformada, Vol.4, 2012, p.343). Cabe destacar que são negadas “a superioridade dada a Pedro” (cf. CALVINO. As Institutas, Vol.4, 2006, pp.109-114) e o continuísmo do “ofício extraordinário”, o qual “não pertence a capacitação contínua e repetida da igreja” (RIDDERBOS. Teologia do Apóstolo Paulo, 2004, p.504; o que “sobrevive é a Palavra Apostólica”, BAVINCK. Dogmática Reformada, Vol.4, 2012, p.344 ) conferido ao Papa.
16:18a “κἀγὼ δέ σοι λέγω ὅτι σὺ
εἶ Πέτρος
“E também eu te declaro: tu mesmo és Pedro”.
16:18b καὶ ἐπὶ ταύτῃ τῇ πέτρᾳ οἰκοδομήσω μου τὴν ἐκκλησίαν
“E sobre
esta pedra edificarei a minha igreja”
16:18c καὶ πύλαι ᾅδου οὐ
κατισχύσουσιν αὐτῆς”.
“E as portas da morte/hades prevalecerão
contra ela”
Depois de observar estas questões que envolvem o grego, passaremos para as delimitações contextuais. A parte (microestrutura) em que Mt.16:18 se encontra, é vista por alguns estudiosos com extensões distintas: 1) D.A Carson: “A confissão de Pedro a respeito de Jesus (16:13-20) e o resultado dela (16.21-23”, CARSON. O Comentário de Mateus, 2010, p.426). 2) Donald Hagner: “confissão e comissionamento de Pedro” (HAGNER. Word Biblical Commentary: Matthew 14-28, 2002, p. 461). Finalmente Blomberg: “revelação da Identidade de Jesus a Pedro: uma correta cristologia” (16:13-20, Blomberg, Craig: Matthew The New American Commentary, 2001, p. 249). Essas percepções nos fazem pensar Mt.16:18, a partir desta delimitação contextual. Hagner nos fornece uma estrutura: “1) o cenário e a questão concernente a avaliação pública de Jesus (16:13), 2) a resposta para a primeira questão (16:14), 3) os discípulos questionados (16:15) e 4) a resposta de Pedro e a afirmação de Jesus quanto a sua resposta (16:16,17). A parte que nos interessa neste ensaio é vista por Hagner como: o comissionamento de Pedro consistindo (a) da declaração concernente à igreja (16:18) e (b) a autoridade das chaves” (16:19, HAGNER. Word Biblical Commentary: Matthew 14-28, 2002, p.464). Essa leitura contextual será fundamental na construção dos argumentos, para a resolução da problemática em foco. Depois destas observações trabalharemos as identificações dos conceitos do texto, dialogando com as informações descritas. Mais uma vez as linhas funcionarão como bases estruturais, entretanto numa fusão.
“E também te digo: tu mesmo és Pedro e sobre esta pedra.”
1. “κἀγὼ δέ σοι λέγω ὅτι... ” (“E também
te digo:)
Pedro começa a ser citado diretamente na narrativa, quando responde o questionamento feito pelo Senhor diretamente aos discípulos (Em 16:16 “Simão Pedro” e 16:17, “Simão Barjonas”). Na análise do contexto observamos isto. Assim, a redução do “povo” para os “discípulos” traz a indagação quanto a identificação do Senhor (“quem sou eu?”). A resposta correta de Pedro foi explicada por Cristo, como algo procedente do Pai (16:17). Robertson sintetiza isto ao afirmar: “o Pai te revelou uma verdade, e eu também te digo outra” (ROBERTSON. Word Pictures in the New Testament, 1997, S. Mt 16:18). Desta forma, o caminho para 16:18 visto em junção com o contexto define quem afirma: “eu, o Messias” (MORRIS. The Gospel According to Matthew, PNTC, 1992, p.422). Em suma essas palavras servem como introdução do que será dito.
2. “σὺ εἶ Πέτρος καὶ ἐπὶ ταύτῃ τῇ πέτρᾳ...” (“tu mesmo és Pedro e sobre esta pedra”)
σὺ εἶ ὁ χριστὸς ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ τοῦ
ζῶντος.
(Mt.16:16)
Tu mesmo és o Cristo, o Filho do Deus vivo”
σὺ εἶ Πέτρος, καὶ ἐπὶ ταύτῃ τῇ πέτρᾳ (Mt.16:18)
“Tu mesmo és Pedro e
sobre esta pedra”
A percepção de Allen é perspicaz nessa dinâmica interpretativa, pois pensa a relação Πέτρος e πέτρα, de maneira que, o primeiro nome funciona como expressão dirigida a verdade revelada (16:16,17), sugerindo-lhe um nome metafórico. Desta forma, será a rocha ou a rocha sobre a qual a Igreja permanecerá, é a doutrina central do ensinamento da Igreja. A ideia de que o Cristo divino é a pedra angular do novo edifício da Igreja Cristã (ALLEN. A Critical and Exegetical Commentary on the Gospel According to S. Matthew, 1907, p.176). Outro elemento levantado por Rienecker destaca a progressividade em que as informações são colocadas na narrativa em foco, pois, “primeiro aparece Cristo, depois Pedro e os apóstolos, e finalmente a comunidade. Essa é a sequência” (RIENECKER. Comentário Esperança, Evangelho De Mateus, 2008, p. 286). Além disso, a proeminência de Jesus Cristo preserva-se não apenas por Ser a pedra fundamental e angular, mas também o mestre de obras que constrói a sua comunidade. Ela não é obra dos apóstolos, e sim obra dele. Ela tampouco é propriedade dos apóstolos, e sim propriedade dele, comprada por alto preço (RIENECKER. Comentário Esperança, Evangelho De Mateus, 2008, p. 286). Em suma, Pedro é a “rocha” porque neste contexto é quem confessa a Jesus como, o Cristo (KEENER. Matthew, 1997 (The IVP New Testament Commentary), s. Mt 16:17). Esses levantamentos nos levam a pensar a identificação da “pedra”, basicamente na confissão/confessor. Esta tese ganha substanciação pela viés do trato contextual. Além disso, Carson destaca que “senão fosse pelo exagero da ICAR, seria duvidoso que muitos considerassem que “pedra” fosse alguma outra coisa ou outra pessoa que não Pedro” (CARSON. O Comentário de Mateus, 2010, p.431). Parece que esta tese tem plausibilidade pelos elementos levantados.