...e adorá-la-ão todos os que
habitam sobre a terra, aqueles cujos
nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Ap.13:8)
|
E aqueles que habitam sobre a terra,
cujos nomes não foram escritos no
Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta
que era e não é, mas aparecerá (Ap.17:8).
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Pelejarão eles contra o Cordeiro, e
o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis;
vencerão também os chamados, eleitos
e fiéis que se acham com ele. (Ap. 17:14)
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sábado, 10 de fevereiro de 2018
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
REFUTAÇÃO
A TRADUÇÃO DE Rm.9:5 PRESNTE NA TNM QUE DESCONSIDERA QUE “CRISTO É DEUS”.
Rm.9:5: ὁ Χριστὸς τὸ κατὰ σάρκα, ὁ ὢν ἐπὶ πάντων θεὸς εὐλογητὸς εἰς τοὺς αἰῶνας, ἀμήν
“... o
Cristo segundo a carne. Deus, que está
sobre tudo, seja louvado para sempre. Amém” (TNM).
“... Cristo, que é Deus
acima de tudo, bendito para sempre! Amém” (NVI
Neste
ensaio focaremos nas questões oriundas da língua grega, para negarmos a
tradução de 9:5 presente na TNM. Mas, por estarmos cientes de que a exegese não
funciona num vácuo, traremos uma síntese teológica do tema teológico: trindade.
Na verdade, este tema será visto com considerandos presentes na história do
pensamento cristão. A defesa em foco aqui substancia, numa dimensão
interpretativa, a divindade de Cristo como Deus.
A
doutrina da Trindade passou por definições disntintas ao longo da história do
pensamento cristão. Inicialmente, certas elaborações funcionaram numa dinâmica
apologética (combate contra as heresias no período da patrística) e culminaram
na conclusão de Niceia (325 d.C): “o símbolo de fé, onde a profissão de fé no
mistério da Trindade confessa a existência de um só Deus em três pessoas: Pai,
Filho e Espírito Santo”. Agostinho
(354 – 430),
nesse mesmo viés, pensa numa “unidade divina realizada pela inseparável
igualdade de uma única substância” (AGOSTINHO. A Trindade, 2016, p.31). No período da reforma, Calvino
(1509-1564) com suas formulações sobre este tema, usa o termo “essência”, para
expor suas percepções, pois “o que ensina
na Escritura sobre esta essência infinita e espiritual de Deus deve valer tanto
para destruir os delírios do vulgo quanto para refutar a filosofia profana”
(CALVINO. A Instituição da Religião Cristã, 2007, p.114). Neste ensaio
focaremos no que afirma Agostinho: “primeiramente [...] é preciso demonstrar
pela autoridade das santas Escrituras, a certeza da nossa fé” (AGOSTINHO. A Trindade, 2016, p.27). O texto de
Rm.9:5 funciona desta forma, numa dinâmica agostiniana.
O
uso desta passagem em foco está fundamentada na associação singular entre Χριστὸς e θεὸς (termo usado na LXX para traduzir o tetragrama יהוה).[1] Entretanto,
a problemática quanto a associação citada é a tradução, pois, em 9:5 (ὁ Χριστὸς τὸ κατὰ σάρκα, ὁ ὢν ἐπὶ πάντων θεὸς εὐλογητὸς εἰς τοὺς αἰῶνας, ἀμήν) a doxologia é dirigida a quem: Χριστὸς ou θεὸς? A TNM diferente de outras versões em português[2]
entende que é dirigida a Deus: “... o Cristo
segundo a carne. Deus,
que está sobre tudo, seja louvado para sempre. Amém”.[3] Vemos esta tradução não condizente por
alguns substratos distintos.
Nossa
tarefa que prima por relacionar o dogma ao texto, passa inicialmente pela
compreensão contextual de Rm.9:5. Para tal observemos o texto em seu
continuísmo: ... ὧν οἱ πατέρες καὶ ἐξ ὧν ὁ Χριστὸς τὸ
κατὰ σάρκα, ὁ ὢν ἐπὶ πάντων θεὸς εὐλογητὸς
εἰς τοὺς αἰῶνας, ἀμήν (“... dos quais deles
são os pais, dos quais é o Cristo segundo a carne, sobre todos DEUS
bendito para sempre amém”). Basicamente pela linha do contexto lógico duas
questões são trabalhadas: [1] a veracidade
e intensidade da “dor” que Paulo sentia por seus compatriotas (Rm.9:1-3)
e [2] a identificação e descrição
destes compatriotas (Rm.9:4,5).
Paulo não usa nenhum tipo de conexão aparente (assíndeto) na
transição para Rm.9:1[4], mas
somente declara: “Digo a verdade, e
não minto...”. Desta maneira as discussões precedentes foram concluídas
e segundo Runge “o escrito
não necessita de um tipo de relação entre as cláusulas” (RUNGE. Discourse Grammar of
the Greek New Testament: A Pratical Introduction for Teaching and Exegesis, p.20).
Além
disso, a questão iniciada em 9:1, pode ser uma correção quanto a percepção dos
judeus daquela época, os quais tratavam Paulo como inimigo deles[5] (CALVINO.
Comentário à Sagrada Escritura, Romanos,
2001, p.322.). Nesse viés, o apóstolo, neste
capítulo, começa com uma série de provas quanto ao seu grande pesar e incessante
“dor em seu coração” com referência a seu próprio povo (PFEIFFER;
HARRISON. The Wycliffe Bible Commentary:
New Testament, 1962, s. Rm 9:6.). Ao
caminharmos mais um pouco,
em Rm.9:3 fica clara a direção destes verdadeiros sentimentos de Paulo, quando
afirma: “... por amor de
meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne.” Assim, descreve primeiro os judeus
como “meus irmãos”, um termo que
geralmente é usado (no corpo paulino) para os cristãos.[6] Entretanto,
o apóstolo ainda faz parte da mesma comunidade com outros judeus, e devemos
notar com isso, por meio da expressão: “segundo
a carne”. Além disso, “meus
compatriotas” [7]
indica que havia laços que o ligavam à sua nação, evidente que ainda assim, via
seus relacionamentos em Cristo como muito mais significativos do que esses, mas,
isso não lhe impediu de esquecer-se da raça a que pertencia (MORRIS.
The Epistle to the Romans, 1988, p. 347). A abrangência desta identificação (Rm.9:4,5) é
exposta, por meio de certas indicações, algumas terminológicas outras pessoais.
Assim, aos israelitas pertencem “a adoção e também a glória, as alianças, a
legislação, o culto e as promessas” (Rm. 9:4) e “deles são os patriarcas, e também
deles descende o Cristo” (Rm.9:5).[8] Depois destas afirmações, a
conclusão em forma de doxologia (dependente) expõe que “Cristo é Deus”. De que
forma podemos entender isto?
Cabe
inicialmente observar, pela análise dos conceitos o amplo uso de θεὸς no NT (1307 vezes). Entretanto,
no contexto de Rm.9 sua delimitação envolve qualificações genitivas
(vs.6,8,11,16,26), dativas (vs.14,20) e usos nominativos (vs.5,22). Este
contexto sintático descreve a veracidade e singularidade, no qual θεὸς aparece em Rm.9. O primeiro uso neste capítulo será o alvo de nossa
análise, o qual numa síntese com o contexto, segundo Kenner
demonstra que “as bênçãos que Paulo atribuiu aos crentes em Jesus
(8:2,15,18,29) pertenciam a Israel, de acordo com o Antigo Testamento.
Reconhecendo Cristo como Deus, Paulo enfatiza ainda mais enfaticamente: o próprio Deus veio à humanidade
através de Israel” (KEENER. InterVarsity Press: The IVP Bible Background Commentary:
New Testament, 1993, S. Rm 9:4). Essa tese passa por
algumas comprovações que envolvem os nominativos Χριστὸς e θεὸς pelo substrato sintático, funcionando
numa estruturação distinta. Pelo diagrama observamos a ligação com o precedente
e aquelas presentes no próprio verso:
(Ἰσραηλῖται)
ὧν ἡ υἱοθεσία [...] “Israelitas dos quais é a adoção” [...]
ὧν οἱ πατέρες “dos quais são os pais”
καὶ ἐξ ὧν
ὁ Χριστὸς τὸ κατὰ σάρκα, e dos quais é o Cristo segundo a carne
ὁ ὢν ἐπὶ
πάντων θεὸς εὐλογητὸς εἰς τοὺς αἰῶνας, ἀμήν.
que é sobre todos, Deus
bendito para sempre amém”.
A ligação entre Χριστὸς e θεὸς
tem sido problematizada na tradução, pois, são trabalhadas duas
possibilidades: 1) A NVI traduz de forma dependente (usando a vírgula): “... Cristo, que é
Deus acima de tudo, bendito para sempre! Amém”. De outro lado, a TNM o faz de forma independente (usando o ponto final): “o
Cristo segundo a carne. Deus, que está
sobre tudo, seja louvado para sempre. Amém”. A conclusão quanto a esta especificidade
produzirá importantes conclusões teológicas. A defesa em voga neste ensaio pensa na primeira tradução como mais
coerente.
“Cristo que é Deus” (NVI) faz mais sentido por algumas razões: 1) esta é a leitura mais natural e 2) está de acordo com o estilo
paulino presentes em outros lugares (1:25; 2Co.11:31; Gl.1:5; 2Tm.4:18).
Além disso, 3) numa doxologia
independente (tradução da TNM), se espera que εὐλογητός (“bendito”) venha primeiro como em Lc.1:68;
2Co.1:3; Ef.1:3; 1Pe.1:3 (DUNN. Word
Biblical Commentary: Romans 9-16, 2002, S.528). O discurso em si, nesse formato doxológico, se
fosse aplicado a Deus (como na TNM), mudaria de assunto de forma abrupta. O
diagrama nos ajuda na compreensão desta percepção. Em último lugar, Bruce
Metzger levanta alguns pontos que devem ser observados: 1) A interpretação que toma a construção da doxologia como assindética
(quebrando os conectivos), sendo dirigida a Deus Pai é atrapalhada e
antinatural. Na verdade as doxologias paulinas nunca são assindéticas,
mas sempre se ligam aos precedentes como em:
ὅς ἐστιν εὐλογητὸς εἰς τοὺς αἰῶνας, ἀμήν - “... que é bendito eternamente amém”,
Rm. 1:25;
ὁ ὢν εὐλογητὸς εἰς τοὺς αἰῶνας – “... que é bendito eternamente amém” 2Co
11:31;
ᾧ ἡ δόξα εἰς τοὺς αἰῶνας τῶν αἰώνων,
ἀμήν – “... a quem
seja a glória pelos séculos dos séculos amém” Gl.1:5.
Outra
questão é 2) a presença do particípio (ὢν, “que é”) que sugere o funcionamento da cláusula como relativa (não
“aquele que é…”, mas “quem é…”), descrevendo ὁ Χριστός (o Cristo) como “Deus sobre todos”. (METZGER;
United Bible Societies: A Textual
Commentary on the Greek New Testament, 1994, S. 461).
Depois destes apontamentos sintáticos, a conclusão quanto ao
texto em seu contexto “indica a fé total que confessamos: nosso
Senhor, pelo fato de assumir a carne, é filho do homem e, segundo a eternidade,
é o Verbo no princípio, Deus bendito acima de todos os séculos” (AGOSTINHO. A Explicação
de Algumas Proposições da Carta de Romanos, 2016, p.29). Assim, Ele não é uma criatura, mas era, é e
permanece Deus, “que é sobre todos, bendito para sempre” (BAVINK. The Doctrine of God, 1979, p.271). Essas considerações são conjugadas ao contexto, indicando a principal
coisa que o povo judeu não conseguiu perceber, a divindade do Cristo. Paulo
quer que seu povo entenda quem estão rejeitando, pois não é somente o Messias,
mas o próprio Deus. Portanto, ὁ Χριστός (o Cristo) deve ser visto como digno
de louvores eternos, e Paulo em 10:1–13 conclama os judeus a fazerem exatamente
isso. O “Amém” forma uma afirmação normal de fechamento da validade da adoração
como em Rm.1:25; 11:36; 15:33; 16:27 (OSBORNE. Romans IVP, S. 240).
Depois de percorremos este caminho investigativo com
elementos da pesquisa exegética, estabelecemos alguns pontos de fundamentação
para o pressuposto hermenêutico em questão. Em primeiro lugar, a delimitação
contextual, a qual nos fez entender a tratativa em questão sob um viés mais
amplo com desdobramentos pontuais. Em segundo lugar, os levantamentos quanto a
alguns considerandos de 9:5, os quais permitem uma leitura em associação de Χριστὸς com θεὸς, sendo que o segundo
funciona como qualificador (“substância ou essência”) do primeiro. Esta
passagem nos é cara, pois tem sua singularidade declarada no NT por essa
dinâmica. Portanto, de forma introdutória entendemos a divindade de Cristo
textualmente (ele é Deus) e estabelecemos o diálogo do Dogma com a Exegese, ou
seja, “a dimensão interpretativa da teologia e a dimensão teológica da
interpretação”.
[1]
Como em Gn.2:5,7; Êx.4:1.
[2] Algumas:
“... o Cristo segundo a carne, o
qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém” (ACF, ARC). “...o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus
bendito para todo o sempre. Amém!” (ARA). “... Cristo, que é
Deus acima de tudo, bendito para sempre! Amém” (NVI).
[3]
Disponível em: https://www.jw.org/pt/biblioteca/biblia/biblia-de-estudo/livros/romanos/9/.
Acesso em 28/07 às 09:13.
[4]
Sanday e Headlam explicam isso: “Talvez tenha havido
uma pausa na redação da Epístola, o amanuense suspendeu por algum tempo seus
trabalhos. Notamos também que Paulo não segue aqui seu hábito geral de declarar
o assunto que vai discutir (como ele faz, por exemplo, no começo do capítulo
3), mas permite que se torne gradualmente evidente”. SANDAY, W.; HEADLAM, Arthur C.: A Critical and Exegetical Commentary on the
Epistle of the Romans. 3d ed. New York : C. Scribner's sons, 1897,
p. 226. A ausência de uma conjunção aqui definida como construção em
“Assíndeto”. Runge o explica: “o uso do Assíndeto indica que o escrito não
sente necessidade para especificar algum tipo de relação entre as cláusulas”.
Além disso, pode ser usado para apontar um descontinuísmo como início de novo
pensamento ou tópico. RUNGE
Steven. Discourse Grammar of The Greek
New Testament. Massachusetts: Hendrickson Publishers Marketing, 2010, pp.20,22.
[5]
Cf. Rm.2-3:1-8
[6] Na verdade, este é o
único lugar onde Paulo usa o termo sendo ligado aos judeus.
[7]
Este termo (συγγενής) aparece onze vezes no NT: Mc.6:4; Lc.1:58; 2:44; 14:12;
21:16; Jo.18:26; At.10:24; Rm.9:3; 16:7,11,21.
[8]
“A adoção” (υἱοθεσία aparece
cinco vezes no NT: Rm.8:15,23; 9:4; Gl.4:5; Ef.1:5) denota o fato de Israel ter sido escolhido, para ser filho de Deus
(Dt.14:1; Is.43:6; Jr.31:9; Os.1:10). Quanto “a glória” é uma referência clara a que pertence “ao Senhor”,
particularmente, apontando as teofanias que tinham privilegiado de forma
especial a Israel como povo de Deus (Êx.16:10; 24:15–17; 40:34–35; Lv.9:23; Nm
14:10). “As alianças” chancelam aquilo
que é exprimido com palavras solenes, e contém uma obrigação mútua (Gn.6:18;
9:9; 15:8; 17:2,4,7; Êx.19:5, CALVINO
João. Comentário à Sagrada Escritura,
Romanos, p.328). “A legislação” (νομοθεσία aparece
somente aqui em toda a Bíblia. Não consideramos os usos em Macabeus) aponta para as coisas que a lei decreta. De certa forma, isso está ligado
ao “culto”, pois esse fundamentava-se
nas prescrições do Senhor em Sua Palavra (CALVINO João. Comentário à Sagrada Escritura, Romanos, p.328). Quanto “as promessas” feitas no AT referendam em especial à vinda do
Messias”. Elas
foram feitas aos judeus inicialmente (SANDAY, W.;
HEADLAM, Arthur C.: A Critical and
Exegetical Commentary on the Epistle of the Romans, p. 231). Em penúltimo
lugar, observamos que de Israel vieram “os patriarcas”, ou seja, aqueles homens chamados por Deus na dinâmica
da história da redenção (Abraão, Isaque, Jacó).
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